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sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Panens et circenses

PÃO E CIRCO

"Com o crescimento urbano vieram também os problemas sociais para Roma. Receoso de que pudesse acontecer alguma revolta de desempregados, o imperador criou a política do Pão e Circo. Esta consistia em oferecer aos romanos alimentação e diversão. Quase todos os dias ocorriam lutas de gladiadores nos estádios ( o mais famoso foi o Coliseu de Roma ), onde eram distribuídos alimentos. Desta forma, a população carente acabava esquecendo os problemas da vida, diminuindo as chances de revolta."

Sabemos que existem circos e circos.
Tanto na atuação quanto na intenção do espetáculo.
Já temos os circos ambientalistas que não exploram os animais nos seus espetáculos e muitas cidades já incluiram em suas leis a proibição de apresentação de espetáculos circenses que trazem animais na sua programação.
O circo é nobre enquanto a sua intenção é levar a diversão para o povo, mesclando a cultura regional às habilidades dos artistas. Chamando de povo qualquer cidadão de qualquer lugar. A arte popular, o circo, merecem o nosso aplauso.

Mas, a política do pão e circo é desprezível.
A má intenção do uso da diversão e do dar algo ao povo, com o propósito de distraí-lo de más administrações, é desprezível.
Qualquer semelhança da intenção romana com o que vem acontecendo em Lagoa Santa não é mera coincidência.
Temos visto acontecer com frequência essa política em nossa cidade.

Um trabalho sério e competente da nossa Secretaria de Cultura, foi transformado em material de propaganda da prefeitura. Os folders de propaganda da prefeitura estão recheados dos acontecimentos culturais. Por que? Porque É um trabalho sério que vem sendo feito ali. E então, junto a esse trabalho publicam, utilizando-se da sua seriedade, propagandas de obras e obras que não raro ouvimos a respeito delas que "não são bem assim".

Com a recente publicação do "catálogo de propaganda" da prefeitura, numa edição de luxo, que todos gostaríamos de saber quanto custou e quem pagou, distribuido em toda a cidade, vimos o quanto tem havido a necessidade de se mostrar serviço. De levantar a lona do mau circo.
Enquanto dilapidam a cidade em loteamentos, condomínios - sempre com a máxima de que Lagoa Santa não é cidade para pobre morar ( pobre aqui só tem valor nas eleições) - sem a menor infra-estrutura de saneamento, sem a menor responsabilidade com a importância cultural, arqueológica e geológica da cidade, editam e distribuem propagandas de luxo. Fazem a propaganda do mau espetáculo circense. Aquele onde a única intenção é distrair a atenção da população para o que realmente vem acontecendo no cidade.

Como se não bastasse, agora instalaram na orla da lagoa central mais um modelo desse circo.
Um golpe de mestre, porque qualquer instituição que queira remover da orla a Academia ao ar livre será taxado de ambientalista xiita. Porém, o que eu ainda não sei e gostaria muito de saber é se existe uma autorização do Conselhor Municipal de Cultura e do CODEMA para a instalação de uma "academia" na orla da lagoa central, que é Patrimônio Histórico Cultural da cidade ( o Patrimônio é a lagoa e toda a sua bacia), sendo também a orla e a avenida que a circunda - até 30 metros do leito maior da lagoa - uma APP - área de preservação permanente. Portanto, ali, para se instalar qualquer coisa é necessária autorização de quem cuida do patrimônio e do meio ambiente na cidade. Por que não um parque para esse fim, com um projeto urbanístico bem feito, respeitando todos os requisitos?

As tentativas incansáveis de grupos de cidadãos, ONGs, de trazer até o povo informação técnica altamente qualificada, através da criação do Subcomitê da Bacia da Lagoa Central e dos Córregos Bebedouro e Jaque, através de movimentações públicas, fóruns ambientais, são várias vezes boicotadas por aqueles a quem não interessam que essas informações cheguem ao povo.

E essas inciativas são o bom circo. Na apresentação e na intenção.
A culturação de um povo, a educação para que ele seja conhecedor do patrimônio ambiental e cultural que possui e que passe ele mesmo a ser o cuidador desse patrimônio é que deve ser a verdadeira intenção de se fazer "um circo" pela administração pública.
Esse é ao mesmo tempo o Pão. O bom pão. Ao contrário das esmolas que se dão de tempos em tempos a troco de alguma coisa, a cultura, o desenvolvimento sustentável, a educação são os verdadeiros provedores do pão nosso de cada dia.
O povo quer qualidade de vida, quer trabalho e diversão.
Não quer ser feito de bobo. Porque já há algum tempo ele vem deixando de ser bobo.

Cuidado os maus atores desses espetáculos à moda romana.
2012 está aí.